domingo, 23 de março de 2008

Philip Glass

"I do not hear noise, I hear music" (John Cage)

Não gosto muito de música clássica contemporânea. Talvez porque simplesmente não a entenda bem. Em geral, o objetivo da arte contemporânea está na forma como ela é feita, e não no resultado final. Está na inovação que uma nova música carrega, e não em seu conteúdo propriamente dito.

Por exemplo, 4′33″, a talvez mais famosa e controversa obra de John Cage, pode ser interpretada por qualquer um. Trata-se de 4 minutos e 33 segundos de silêncio. Silêncio em termos, o barulho ambiente é permitido (que é a verdadeira música). O vídeo abaixo contém uma interpretação dela. Alguém poderia dizer (e foi minha primeira reação quando a ouvi) "mas qualquer um pode fazer isso". Mas alguém fez? Provavelmente poucos pensaram em algo assim antes de Cage. Estou de acordo que a idéia é interessante, mas ainda assim não consigo vê-la como música. Como arte sim, mas não como música. (Acho que na verdade isso é apenas uma questão de definições, talvez irrelevante).

(Apenas fazendo um parênteses, estava pensando agora o que aconteceria se Monty Phyton tivesse feito uma cena como a do vídeo abaixo, mas antes de Cage compor essa música. Conclui que certamente ele também seria apreciado, mas sob outro aspecto, o que é, no mínimo, interessante: a mesma idéia sendo usada para a arte ou para o humor, dependendo o que surgiu primeiro).



Contudo, há uma excessão com relação a compositores clássicos contemporâneos (ao menos para mim): Philip Glass. Philip Glass é um compositor norte-americano classificado, em geral, como minimalista.

O que é minimalismo em música? Bom, citando a wikipedia, porque tenho um monte de coisa para fazer,

"Na música erudita das últimas três décadas o termo minimalismo foi usado para eventualmente se referir à produção musical que reúne as seguintes características: repetição (frequentemente de pequenos trechos, com pequenas variações através de grandes períodos de tempo) ou estaticidade (na forma de tons executados durante um longo tempo); ritmos quase hipnóticos. É frequentemente associada (e inseparável) da composição na música eletrônica."

Philip Glass compôs a trilha de diversos filmes, como "As Horas", "O Ilusionista", "O Show de Truman" e o documentário "Koyaanisqatsi". Penso que o melhor adjetivo para classificar sua música é hipnótico. Não acho que o youtube seja um bom meio para se conhecer novos compositores, pois o som é terrível e induz uma impressão errada. Mas aqui é o único jeito. O primeiro vídeo abaixo mostra uma parte de sua ópera intitulada "Einstein on the Beach". O segundo é uma parte do documentário "Koyaanisqatsi" (que significa "vida desequilibrada" na língua Hopi). As imagens e a música se casam perfeitamente aqui, e me fazem sentir uma terrível agonia.





Recomendo o genial disco "Passages", de Glass com o citarista indiano Ravi Shankar. Não encontrei no youtube nenhum vídeo que realmente valesse a pena colocar aqui.

No final das contas acabei divagando e quase não falei do Philip Glass. Sugiro aos interessados que descubram mais sobre ele por si próprios.

7 comentários:

Renata Brunelli disse...

Hehe, engraçado como qualquer modalidade de arte chamada de "moderna" é meio "difícil e interpretar", pra não dizer esquisita... tem aquela cena clássica, com pessoas numa galeria paradas na frente de um quadro e dizendo "Hmm, genial!", e aí mostra no dia anterior um macaco com as patas sujas de tinta caminhando sobre uma tela branca... :pp
Não quis depreciar os artistas, apenas dizer que acho uma bobagem esse negócio de querer ficar achando significado onde não tem... por isso desisti de prestar Letras!!! Com tantos autores tomando zero nos vestibulares sobre seus próprios livros...

rizbicki disse...

É verdade...mas tem algumas que são interessantes...
Por exemplo, recentemente no MAM havia uma exposição na qual a última obra eram várias máquinas de escrever que não tinham nenhum caractér além de ".". Ou seja, todas as teclas resultavam em ".". Os visitantes podiam usá-la. A primeira sensação que eu tive foi de falta de expressão (eu ia dizer impotência agora, mas não ia pegar bem). Mas depois vc percebe quantas coisa da pra fazer só com ".", e, de fato, as pessoas faziam desenhos incríveis.

Quanto aos livros de vestibular, de fato...uma vez uma professora minha citou um autor que, ao ouvir um comentário de seu livro do tipo "o autor quis dizer isso...", falou "poxa, é mesmo...nunca tinha pensado nisso...gostei"

Luiz disse...

Nossa, Rafael, post muito bom!
Infelizmente o CEC não me permite assistir os vídeos...
Concordo que a arte moderna serve mais pra gerar discussão do que para transmitir realmente alguma coisa. Às vezes o autor tem alguma idéia meio bagunçada do que fazer e acaba meio que pintando qualquer coisa, e aí os "especialistas" ficam querendo achar um sentido e dizendo que quem não concorda com eles está errado.
Na verdade, acho que avaliação de arte não tem como ser certa ou errada; é algo subjetivo.

Unknown disse...

Sei la, talvez a arte moderna se
baseie nos principios economicos
e de marketing, produzir valor do
nada. Ou melhor ainda, a arte imita
a bolsa de valores e cria bolhas...

Unknown disse...

no fundo parte da arte moderna
está usando a tecnica do rei nu...
mostrar que não entendeu é ser
burro, mesmo que não haja nada para
ver...um truque nada moderno que
ainda funciona...

rizbicki disse...

"Na verdade, acho que avaliação de arte não tem como ser certa ou errada; é algo subjetivo"

Concordo totalmente, e com a técnica do rei nu também...inclusive literalmente algumas obras modernas se baseiam em reis nus!! Mas algumas outras fazem sentido...

Unknown disse...

Concordo que a arte é subjetiva, mas
um museu pagar dezenas de milhões
de dolares por um quadro que as
pessoas tem dificuldade em entender
o por que de soma tão assombrosa,
parece mais uma bolha especulativa...
e decidir pagar um valor tão alto
teria que seguir algum critério
objetivo...